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sábado, 10 de agosto de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

sexta-feira, 14 de junho de 2013

quinta-feira, 13 de junho de 2013

BREVE REFLEXÃO ACERCA DO IMBRÓGLIO NA DEMARCAÇÃO DAS RESERVAS INDÍGENAS
Crônica
Sempre causou-me indignação o rótulo de “ociosos” que alguns desavisados, por falta de conhecimento ou recheados de interesses próprios, tentam atribuir aos í...ndios.
Resolvi, diante dos últimos acontecimentos, vasculhar sites – favoráveis e desfavoráveis à demarcação das reservas indígenas (parece surreal mas muita gente faz careta quando o assunto adquire essa tonalidade).
Simpático à causa desses primitivos moradores talvez puxe, voluntariamente, brasas às suas fogueiras. Mas nunca com a irresponsabilidade de quem pretende jogar cinzas no caos.
Os dois parágrafos a seguir, copiados do site da FUNAI, merecem atenta leitura.

“As populações indígenas são vistas, pela sociedade brasileira, ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem diretamente com os índios: as populações rurais.
Dominadas política, ideológica e economicamente por elites municipais com fortes interesses nas terras dos índios e em seus recursos ambientais, tais como madeira e minérios, muitas vezes as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que aí vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de "ladrões", "traiçoeiros", "preguiçosos" e "beberrões", enfim, de tudo que possa desqualificá-los. Procuram justificar, desta forma, todo tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.
Já a população urbana, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são os donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três últimas décadas tenha-se constatado o crescimento da população indígena.

Por outro lado, muitos argumentam que “é muita terra pra pouco índio”.
A fala do antropólogo João Pacheco de Oliveira, professor do Museu Nacional da UFRJ, desmistifica essa tese.
João Pacheco rebate argumentos do senso comum contra os índios, como o de que são menos de 1 milhão de pessoas e têm reservas que somam 13% do território nacional. - "As áreas indígenas não são apenas destinadas aos indígenas, em grande parte são reservas ambientais", diz. "E não são terras dos indígenas, são terras da União."

As áreas indígenas não são apenas destinadas aos indígenas. Em grande parte são reservas ambientais, santuários ecológicos desrespeitados: Xingu, a área ianomâmi, algumas regiões da fronteira do Javari, Rio Negro. E não são terras dos indígenas, são terras da União. As terras indígenas não são esses 13% que se colocam. Aliás, o próprio argumento é bastante questionável, porque a concentração fundiária no Brasil deve levar 0,2% da população a ter 80% das terras agricultáveis. Então, essa justificativa seria pela reforma agrária imediata.

O assunto é longo e seriam necessárias laudas e laudas, mas serei breve em meu posicionamento.
Quando, há quinhentos anos, os primeiros europeus aqui chegaram, trazendo, além das doenças que dizimaram grande número de índios, o irrefreável desejo de conquistas, estima-se que eles aqui já se encontravam há mais de 10.000 anos.
Logo, não há, nesse país, proprietários mais legítimos, historicamente.
Legalmente também já tiveram os seus direitos devidamente reconhecidos.
As medidas são duras, mas tudo cicatriza nessa vida.
A demarcação das reservas indígenas não pode recuar.
E que a sociedade brasileira arque com as justas indenizações, devidas aos agricultores, pela omissão de todos os governos que, letárgicos, nunca se preocuparam em resolver esse imbróglio.
Mas é claro que a discussão não termina aqui. É apenas uma centelha na palha seca.

Mário Massari